O Multiverso Espeleológico representou um momento histórico para a espeleologia brasileira, consolidando a união de três encontros regionais: Mineiro, Nordestino e do Planalto Central. O evento pioneiro destacou-se pelo caráter inovador e interativo, diferenciando-se dos tradicionais encontros técnico-científicos já conhecidos no Brasil.
Com uma abordagem inclusiva, o evento reuniu aventureiros de todo o país, promovendo a interação com a comunidade local e incentivando a conservação do Patrimônio Espeleológico de maneira diferenciada.
O Multiverso Espeleológico ocorreu de forma híbrida. Durante o mês de maio de 2024, todas as quintas-feiras foram marcadas por palestras virtuais técnicas (Bloco 1). Entre os dias 30 de maio e 02 de junho, a cidade de Montes Claros – MG sediou as atividades presenciais, que aconteceram na Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES), no Parque Estadual da Lapa Grande (PELG) e na Comunidade de Buriti do Campo Santo.
A programação presencial foi diversa e envolvente, incluindo apresentações técnicas, manifestações culturais, Enduro a Pé de Regularidade, atividades infantis (EspeleoMirim), além do Concurso de Contação de Causos e Histórias Espeleológicas, entre outras atrações.
A eBRe teve uma participação significativa no evento, contando com cinco monitores e focando suas ações no Espeleokids, promovido em parceria com a comissão organizadora do evento.
No primeiro dia do evento, um espaço especial foi criado para as crianças, incentivando a interação e o aprendizado através da diversão e da imersão no mundo da espeleologia.
No dia 1º de junho de 2024, iniciaram-se atividades e oficinas voltadas para crianças e adolescentes na Comunidade Buriti do Campo Santo, estimulando a conscientização sobre a importância do patrimônio espeleológico de forma lúdica e educativa, com a realização de:
- A exposição do projeto Terra de Lund, disponível durante todo o dia, conduzido pelo jornalista Paulo Barak, apresentou uma coleção de peças produzidas especialmente para a mostra, oferecendo à comunidade uma oportunidade única de conhecer um pouco mais sobre a pré-história brasileira e o legado do pesquisador dinamarquês Peter W. Lund, uma das figuras pioneiras da espeleologia no Brasil.


- O espetáculo “A Encantaria da Rendeira”, criada exclusivamente para o evento pela trupe teatral CantaquiContaculá, que encantou o público com a história da aranha Ariã e seus amigos, um morcego e um grilo. De forma lúdica e envolvente, o grupo abordou a importância da preservação das cavernas, promovendo um momento mágico de aprendizado.


- Além da apresentação, a trupe guiou as crianças em uma visita especial à Lapa da Claudina (MG-88), proporcionando uma vivência única no ambiente subterrâneo. Durante a experiência, os pequenos exploradores puderam compreender, de forma sensorial e interativa, a fragilidade e a relevância dos ecossistemas cavernícolas.
- A Caça ao Tesouro, em que monitores da eBRe promoveram atividades educativas com a introdução a conceitos básicos de cartografia. As crianças aprenderam sobre a rosa dos ventos e o uso de bússolas, habilidades que foram colocadas em prática através de uma dinâmica. Divididos em grupos, os participantes utilizaram mapas da praça de Nossa Senhora de Santana para localizar tesouros escondidos, estimulando o trabalho em equipe e o desenvolvimento da leitura de mapas.


- A Pintura com tinta de terra, juntamente com a oficina de Confecção de Morcegos, realizadas na Associação de Pequenos Produtores Rurais de Buriti do Campo Santo e ministrada por membros da eBRe e da UNIMONTES, foi oferecida para as crianças da comunidade, familiares dos participantes e demais interessados. Materiais para fazer as tintas e os artesanatos, tais como solos de cores diferentes, garrafas PET, sacos plásticos, cola, papel pardo e rolinhos de papel higiênico, foram conseguidos junto a comunidade, e organizados nas mesas da sede da Associação. Alguns materiais complementares, como papel tipo cartolina e sulfite, tinta para artesanato, cola, pincel atômico e pincel, foram fornecidos pelo evento para a atividade.
A atividade de pintura com tinta de terra envolveu, inicialmente, 7 crianças e seus familiares, na criação de tintas a partir de materiais disponíveis na natureza, levando a reflexões sobre como os solos (terra) com cores diferentes, carvão, cal, minerais, rochas, resinas, plantas e outros materiais, foram utilizados pelas sociedades primitivas na confecção das artes rupestres, tão comuns ao cenário do norte de Minas Gerais. Posteriormente, as tintas confeccionadas foram utilizadas na pintura em papel pardo de temas livres, proporcionando um aprendizado criativo e interativo sobre a relação entre arte e natureza, que motivou tanto as crianças que elas iam chamar outras para participarem.


Já a oficina de confecção de morcego, utilizou materiais simples para produzir artesanatos de morcegos simultaneamente a divulgação de informações sobre biologia subterrânea com enfoque nos morcegos, promovendo a criatividade e interação entre os participantes. Com um público de cerca de 30 crianças e alguns adultos, a oficina despertou a curiosidade e reforçou a importância da conservação das cavernas e da fauna subterrânea, fortalecendo o sentimento de pertencimento à comunidade e valorização de seu ambiente cárstico.


Nessa oportunidade, ainda, a eBRe distribuiu para as crianças a cartilha “Você sabe o que é uma Caverna?”, desenvolvida para o público alvo com faixa etária entre 6 e 10 anos (anos iniciais do ensino fundamental), e lançada em 2023.
- A equipe técnica do Laboratório Multiusuário de Doenças Infecciosas e Parasitárias (LADIP) da UNIMONTES, montou na praça central da comunidade uma oficina denominada “O fantástico mundo dos morcegos”, com objetivo aumentar o conhecimento do público sobre os morcegos e divulgar o seu papel no ecossistema, corroborando para a desmistificação dos preconceitos e medos relacionados aos morcegos, e incentivando a conservação e proteção dos habitats naturais destes animais.


- E ao cair da tarde, a comunidade local foi convidada a trocar experiências com espeleólogos presentes através de uma roda de conversa, iniciada com a apresentação teatral do Vaqueiro Catrumano, conduzida pelo ator local Leonardo Silva Alves.


A apresentação facilitou a comunidade compartilhar diversas histórias sobre a fundação da comunidade de Buriti do Campo Santo e suas lendas que envolvem as cavernas locais, como a Lapa da Claudina (MG-88) e a Lapa do Meireles (MG-594), onde, devido à uma briga entre famílias tradicionais da região, há um importante tesouro intocável, por ser guardado por um feitiço. Participaram desta atividade aproximadamente 25 pessoas, entre elas os representantes das comunidades de Buriti do Campo Santo e Olhos D’Água, a Dona Lavínia, personagem importante na comunidade, e a gerente do PELG, Aneliza Melo.
Além de tudo isso, o evento distribuiu pipoca, algodão doce, água e diversos brinquedos para a comunidade, e disponibilizou açaí e cupuaçu a partir de uma parceria com a lanchonete Império do Açaí. Banheiros químicos e uma ambulância foram disponibilizados pela Prefeitura Municipal de Montes Claros e a Cooperativa Regional Mulheres do Cerrado levou uma infinidade de produtos regionais, além de servir o maravilhoso arroz de pequi com farinha de carne seca aos participantes.
As atividades realizadas diretamente pela equipe da eBRe totalizaram 8 horas e foram conduzidas pelos instrutores responsáveis Afonso Figueiredo, Beatriz Pires, Carla Pereira, Dayana Torres, Giulio Pacheco, Icaro Assis e Mariana Timo, além da monitora Ana Clara Medeiros e membros da equipe LADIP/UNIMONTES.
O Espeleokids proporcionou um dia repleto de aprendizado e diversão para as crianças, com diversas atividades educativas e culturais, incentivando a interação e a valorização do meio ambiente subterrâneo, proporcionando experiências enriquecedoras para crianças e adultos.
A eBRe fica orgulhosa e agradece a toda a parceria envolvida (EPL, EPC, Guano Speleo, SEE, Espeleonordeste) na realização deste evento tão singular na espeleologia nacional.




