A formação de espeleólogos no Brasil é ainda um processo incipiente, sendo realizada como rotina principalmente dentro dos grupos de espeleologia regionais do país, na busca pela consolidação de novos integrantes.
Até mesmo nas regiões cársticas e com ocorrência de cavernas do Brasil, os conhecimentos técnicos e científicos vinculados a Espeleologia nem sempre são divulgados, ou ainda, estruturados na formação socioambiental dos cidadãos.
Neste sentido, a Escola Brasileira de Espeleologia (eBRe/SBE) vem, desde 2019, promovendo e incentivando a realização de cursos de capacitação em espeleologia junto à sociedade brasileira.
Uma parceria entre o Grupo Bom Futuro, a Spelayon Consultoria e a Sociedade Brasileira de Espeleologia (SBE), representada pela Escola Brasileira de Espeleologia (eBRe), construiu coletivamente uma proposta para a realização de cursos de capacitação para os técnicos da Secretaria de Estado de Meio Ambiente de Mato Grosso (SEMA/MT) e para as comunidades dos municípios de São José do Rio Claro e Diamantino (MT), como medida compensatória para implantação de empreendimento hidrelétrico na região.
A 20 técnicos da SEMA/MT, com diferentes formações em áreas vinculadas às geociências, foi ministrada, membros da eBRe e alguns especialistas convidados, a parte teórica do(s):
- Curso Básico de Espeleologia (Formação de Espeleólogos Nível I), via plataformas digitais entre os dias 23 e 27 de maio de 2022.
Foi um módulo de 20 horas em que abordaram aspectos teóricos e práticos de temas como: a espeleologia, carste e sua história, patrimônio e legislação (Mariana Barbosa Timo), técnicas de exploração (Vitor Martins), segurança e socorro (Teresa Aragão), topografia e documentação de dados em espeleologia (Ívia Lemos), biologia subterrânea (Maria Elina Bichuette), arqueologia (Elvis Barbosa) e paleontologia (André Gomide).
Esta ementa corresponde a um primeiro estágio de nivelamento nacional para difusão de conhecimentos mínimos à prática espeleológica.
- Curso Especial de Licenciamento Ambiental e Espeleologia, via plataformas digitais entre os dias 20 de junho e 01 de julho.
Em um módulo de 30 horas, foram trabalhados temas como: educação ambiental e patrimonial na espeleologia (Afonso Figueiredo e Christiane Donato); legislação ambiental espeleológica (Isabela Dalle Varela e Mariana Barbosa Timo), prática e documentação (Ívia Lemos), o carste e as cavernas, seus usos e impactos (Mariana Barbosa Timo), turismo em cavernas e a espeleoinclusão e noções de planejamento e segurança (Teresa Aragão).
Nessa ementa piloto, o curso objetivou disponibilizar informações importantes para a realização de regularizações e licenciamentos ambientais no âmbito da espeleologia.
Abordou de maneira sistêmica o conteúdo conceitual, teórico e prático, que envolve o carste e as cavernas, e os procedimentos, métodos e técnicas relacionados aos aspectos ambientais, normativos e legislativos.
Para a consolidação dos conceitos trabalhados, foram realizadas visitas técnicas entre os dias 17 e 19 de outubro, que totalizaram 24 horas de atividades, guiadas pelos membros da eBRe, Carla Pereira e Marina Timo, e por Vitor Martins (SEE).
Primeiro destino foi a Província Espeleológica Arenítica da Chapada dos Guimarães, para conhecer o Complexo de Cavernas Aroe Jari, sendo estas cavidades desenvolvidas em rochas areníticas de grande importância histórico-cultural e socioeconômica, visto o uso e a ocupação tradicional dos povos indígenas da região, e o desenvolvimento de atividades de turismo sustentável consolidadas. Foram visitadas as cavernas Pobe Jari (MT-36), Kiogo Brado (MT-37), Aroe Jari (MT-38) e Lagoa Azul, todas localizadas na Fazenda Água Fria.
Posteriormente se visitou a região da Província Espeleológica do Alto Paraguai, para a visita técnica as grutas da Cerquinha (MT-98) e São José (MT-104). Ambas se localizam no município de Nobres (MT), sendo desenvolvidas nas rochas calcárias da região. Estas cavidades são atualmente alvo de estudos para sua adequação a realização de visitação turística.
Os cursos desenvolvidos pretenderam contribuir para a capacitação do corpo técnico da SEMA/MT na análise de estudos espeleológicos, visto que a falta de conhecimento teórico e técnico na área, pode acarretar em uma análise incorreta, levando a autorização de atividades potencialmente prejudiciais ao meio ambiente e a sociedade.
Para o superintendente de licenciamento do órgão, o Sr. Valmir S. Lima, este curso trouxe uma nova visão da necessidade de valoração do patrimônio espeleológico, a partir de uma análise crítica dos relatórios que são entregues por empreendimentos que se localizam em áreas cársticas, para a equipe.
Para a finalização do programa, foi promovido um:
- Curso de Introdução à Espeleologia (Despertar Espeleológico), presencialmente entre os dias 20 e 21 de outubro;
Para o público alvo de professores de escolas públicas dos municípios diretamente afetados pelo empreendimento hidrelétrico, foram realizadas palestras e oficinas com o objetivo de divulgar e valorizar a Espeleologia junto a comunidade local de forma lúdica, e assim incentivar a conservação e preservação das cavernas e da fauna regional.
Em São José do Rio Claro (MT), a ação foi realizada na Escola Municipal João Trevisan, contando com a participação de 85 professores, além das secretárias municipais de educação, Juliana Cappellesso, e de turismo, Rosangela Pereira.
Já em Diamantino (MT), a ação foi realizada no Auditório da Secretaria Municipal de Educação, onde compareceram 26 professores.
As palestras, com carga horária de 2 horas, foram ministradas por Mariana Timo (eBRe) e Vitor Martins (SEE), apresentando conteúdos introdutórios referente a ciência espeleológica e a ocorrência de cavernas no estado de Mato Grosso, e a sua importância para o meio ambiente e a sociedade.
Posteriormente, Carla Pereira (eBRe) ministrou uma oficina de confecção de morcegos utilizando material descartável, a fim de estimular a criatividade na interação com os alunos nos momentos de abordagem de conceitos e conteúdos tocantes a espeleologia, contribuindo, por exemplo, para a desmitificação de hábitos e comportamentos de morcegos.
Partindo da premissa que “preservamos o que amamos e conhecemos”, os professores tornam-se agentes multiplicadores da ciência espeleológica ao incorporarem em suas aulas conceitos e atividades que contribuem para a divulgação da Espeleologia na educação básica.
A eBRe, como uma instituição que visa divulgar a Espeleologia, agradece a todos os profissionais e instituições envolvidas na organização e execução destas ações!
As atividades realizadas contribuem para o fortalecimento e crescimento de todos os envolvidos, devido às trocas de experiências e informações proporcionada.